
Foto de Leticia Riva
Pátria livre
Por Letícia Lannes
“As pessoas te criticam sem saber”, disse a jovem de cabelos negros, trazendo-os para frente e tentando ignorar o calor. O Sol quente de uma quarta-feira qualquer queimava as ruas da enorme avenida Paulista. Não podia ter lugar melhor para expressarem suas opiniões em meio ao maior acervo histórico de memórias de São Paulo.
Natalia Rohn, de 20 anos, com seu jeans grudado e sua camisa branca, não deixa por pouco a liberdade que, segundo ela, está se tornando mais restritiva. “Vemos nas ruas mesmo, quando você não apoia aquilo que a mídia ou até o governo apoia, eles sempre dão jeito de reprimir seu movimento ou diminuir sua expressão, diminuir você de alguma forma”.
Após uma das maiores épocas de manifestações, homens fardados, segurando suas armas e cassetetes, mirando em quem passava, não precisavam ter motivos para estarem ali. Homens com suas câmeras nos pescoços, jornalistas independentes, tentando registrar aquelas imagens que marcariam a história de 2015/2016 do Brasil, não faziam nada mais do que a profissão pedia, mas aquilo se tornaria um pesadelo. Fotografias foram perdidas pelo vandalismo que se deu das autoridades locais. Daqueles de quem menos esperávamos.
Voltando para a quarta-feira que beirava os 30°C, era horário de almoço entre 12h30 e 13h. Lotada por homens engravatados, mulheres de calça social e salto alto, vestindo seus crachás de empresas e passando em frente a uma apresentação dos Mamonas Assassinas. Um homem com diferentes personagens e com a voz mais grave que a do Dinho, mas isso não vem ao caso.
Natalia, após entornar alguns goles de água, continuou as frases que estavam de certo modo entaladas. “A própria PM começa a abusar do poder para conseguir dispersar as pessoas, soltando bombas nas pessoas. Então, nós vemos que o direito de protestar está sendo roubado da população. É difícil lidar com as pessoas criticando e a oposição”, concluiu e saiu com sentimento de alívio.
Um homem loiro, sentado próximo a um poste no MASP, mirava atentamente as pessoas passando a sua frente com sua câmera. Adriano Souza gosta de registrar momentos que poucos veem. Vestido com uma blusa azul, que se destacava em dia de Sol, comenta que o abuso da PM era uma das principais causas nas manifestações, mas o difícil mesmo era conviver com pessoas que não aceitavam opiniões e muito menos as respeitavam. O dinheiro era tudo. “Eles só querem a volta da economia. Mas a economia não é tudo o que precisamos”, comentou com olhar de indignação.
“Governar é pensar em tudo. Governar com prazer, para os outros”. Ao longo dos diálogos, o Sol se escondia em meio às nuvens que surgiam com o vento forte. Balançavam as bandeiras de vereadores seguradas por jovens, que se mantinham de pé por horas.
Adriano Souza descrevia o principal motivo de ser considerado tão julgado perante à sociedade. “O governo frisa o capital e as empresas ao invés do social. Vemos diariamente o corte de programas sociais. A discrepância de quem é muito rico e de quem é muito pobre vai aumentar”. Por ali perto, nos bancos atrás do MASP, aquele onde oferece uma ampla visão para o vão-livre, que já abrigou tanta violência, manifestações pró e contra impeachment, a favor do PT, e os "patriotas" de verde e amarelo.
Sentada nos bancos, uma jovem, que aparentava ter seus 22 anos, estava à espera de um amigo. Ana era seu nome. Enquanto isso, usou o tempo para falar sobre a liberdade nas manifestações. Um personagem entre tantos que decide ir às ruas mostrar sua insatisfação com o momento atual.
Mas, a agressividade se torna um problema quando pessoas que não estão interessadas na melhora política resolvem atrapalhar com badernas. “Todo protesto é completamente válido desde que seja pacífico. Todos tem iniciado de forma pacífica, inclusive”.
Para por um momento, respira olhando para o lado. E retorna com palavras que soltava com emoção ao lembrar. “Os próprios manifestantes têm condenado os black blocks, que tem destruído o patrimônio”. Após poucos minutos, seu amigo chegou. Se cumprimentaram, e Ana voltou às ruas. Mas, desta vez, apenas para se divertir.
Pessoas distraídas começam a aparecer segurando sorvetes de um lado para o outro. As pessoas escondidas em seus “uniformes” de trabalho começam a sumir, e a avenida começa a ser tomada por turistas e jovens. Andam sem lembrar, por um momento, que estavam pisando no maior palco de liberdade de expressão política reprimida.