top of page
Foto de Marcelo Rossi

Parada Parque D. Pedro II – Cidade Tiradentes

Trajeto da linha de ônibus descobre visão desconhecida da cidade de São Paulo

Por Marcelo Laganaro Rossi e Thais Guarneri Ferreira Genovese    

     Quarta-feira, 16 de setembro. Chegamos ao Terminal Parque D. Pedro II ainda pela manhã. O relógio da estação marcava 8h. Desembarcamos no Terminal sem muita noção de onde estávamos. Precisávamos de um norte. Ao fundo, dois cobradores de ônibus faziam a recepção dos passageiros.

— Ônibus 4210-10. Terminal Cidade Tiradentes? – indagamos a um deles.

— Se você for ao Terminal, é mais fácil e mais rápido pegar o outro ônibus que vai pela Radial Leste – o cobrador me respondeu, sem hesitar.

— Não podemos, temos de ir até lá com esse ônibus! – falamos para ele.

— Tudo bem. É aquele ali. Plataforma 04. O amarelo. A saída é daqui a dez minutos – o cobrador indicou o sinal com a mão.

     Movidos pela ausência de senso de direção e de desconhecimento do que estava à nossa espera, subimos os degraus do ônibus e demos início à nossa aventura.

     Saímos do Terminal pontualmente às 8h10 da manhã. Fazia um dia bonito. Céu aberto. Sem nuvens. “O trânsito ainda não acordou!”, questionamos, avistando as ruas vazias. As pessoas caminhavam apressadamente para chegar ao trabalho. Havia muitos prédios antigos, mas também lugares bem mais cuidados e com a fachada bonita.

     

     O ônibus passa em frente a uma praça na avenida Rangel Pestana, que está bem preservada. Entre estabelecimentos comerciais e igrejas evangélicas, a quantidade de pessoas trafegando pelas ruas tende a aumentar. Pouco tempo depois, passamos em frente a uma antiga Escola de Teatro do Estado de São Paulo, que está passando por reformas devido à arquitetura antiga da época em que foi construída.

     

    Ao entrarmos na avenida Celso Garcia, a paisagem local se altera. Consideravelmente. A predominância da área verde é uma constante. O comércio ambulante da região ferve intensamente. A avenida é longa, o percurso é incerto, o destino só a Deus pertence. Por falar nesse assunto, na avenida passamos por uma Igreja Universal do Reino de Deus antes de avistar o recém-construído Templo de Salomão. “É aquela do Edir Macedo, não é?”, de cuja estrutura está impecável e muito bem conservada.

— Aleluuuuia! Em nome do Senhor Jesus Cristo!

— Amém! 

     Nessa região, há construções mal cuidadas, abandonadas e pichadas. Passamos em frente a uma Fábrica de Cultura do Estado de São Paulo, com uma estrutura e aparência arquitetônica bem antiga. As ruas por que trafegamos são esburacadas e o ônibus trepida bastante. Mal conseguimos encostar a ponta da caneta no papel para escrever estes relatos de viagem. No assento ao nosso lado do ônibus, um senhor de aparente alta estatura, careca, de óculos escuros e vestindo uma indumentária regata, com os ombros à mostra, disfarça ao passar desodorante em spray.

     Antes de entrarmos na rua Cesário Galero, uma parada nos registros para fotografias. Chegamos ao bairro do Tatuapé. Zona Leste? Sim. Passamos em frente a um Hospital Municipal da região. No decorrer do caminho, avistamos casas lotéricas, farmácias, postos de gasolina e casas de carne. Depois, o ônibus entra na rua Guaraciaba e na avenida Melo Freire.

    Quando perguntado em quanto tempo, aproximadamente, leva para fazer o trajeto de um terminal a outro, o cobrador de ônibus Bruno Amorim, de 21 anos, morador do bairro de São Mateus, afirma que “dependendo, se o trânsito estiver bom, 1h30 a 1h40, em média”. 

O ônibus passa pela avenida Aricanduva, na qual se observa o contraste entre as construções verticalizadas, nomeadamente conhecidas como prédios, e construções horizontalizadas, as comunidades e as favelas. No itinerário, cruzamos com um monte de motéis. “Nossa, isso está pior do que a Raposo Tavares!”, exclamamos, indignados com a quantidade de construções por lá.

— Olha lá, é o motel “Ilha do Farol”! – chamando a atenção de quase todos os presentes no ônibus.

— Onde fica? – questionou-nos uma pessoa. 

— Ah, pergunta lá no Posto Ipiranga! – respondemos, meio sem graça, abismados com a quantidade de postos de gasolina no local e lembrando um antigo comercial veiculado na televisão.

    Pouco antes de desembarcar no Terminal Cidade Tiradentes, atravessamos a avenida Ragheb Chohfi, onde avistamos um pequeno estabelecimento comercial denominado “BAR DA LOIRA” e, para nossa surpresa, só havia homens lá dentro...

    Plataforma 03. Desembarcamos no Terminal às 9h36 da manhã. Ufa, que viagem longa! Chegamos, com segurança, fome e muito calor. Fizemos uma parada para lanchar e tentar uma entrevista com algum comerciante da região.

    Lorena de Brito, também de 21 anos, atendente, nos explica que o movimento no Terminal é muito cheio, e que a frequência é maior durante a semana. Moradora de Cidade Tiradentes, ela nos conta que vem trabalhar de ônibus e que, geralmente, o trânsito é tranquilo. Diz que os passageiros e usuários da estação compram bastantes mercadorias.

— Quanto sai, em média, um salgado? – questionamos a atendente.

— R$ 4,50 – ela nos respondeu, meio sem jeito.

— Então, nos veja um desse, por favor – pedimos, sem graça.

— Esse é R$ 3,00 – ela corrigiu em um átimo.

     Plataforma 02. E assim, após terminarmos de saborear o lanche, tomamos o ônibus de volta ao Terminal Parque D. Pedro II. O transporte partiu às 10h15 da manhã, deixando para trás histórias de pessoas como nós e tempos que jamais retornarão.

© 2023 by Name of Site. Proudly created with Wix.com

bottom of page