As múltiplas faces musicais de São Paulo
A maneira que a cidade de São Paulo acolhe uma diversidade musical tão extensa e as une em um só espaço
Por Marcela Pires Duarte
Quando falamos sobre cultura brasileira, é imprescindível o uso das palavras “miscigenação” e “diversidade.” O Brasil como um todo é repleto de diferentes etnias, credos, culturas e gêneros musicais.
Uma parte do Brasil, a cidade da garoa, do samba, do jazz, do funk, do pop, do brega chamada São Paulo, possui inúmeras culturas musicais por entre suas extremidades. No gosto do povo, há influencias de músicas nacionais, internacionais, novas e antigas.
Em Sampa, tudo acontece, tudo se vê e tudo se ouve. Tem todo tipo de gente. Tem gente que se olhar a fundo, é uma imensidão de batalhas e conquistas. Tem gente que faz a diferença com uma só palavra. Tem gente que apesar dos preconceitos, faz aquilo que ama e bate no peito com o maior orgulho.
No meio de tantas histórias, conheci o Instituto Baccarelli, orquestra de Heliópolis. Lá tem gente de todo tipo, mas todos tem algo em comum: a paixão pela música. Dentre alguns, se destacou Lucas Andrade Lacerda Diniz, de 21 anos.
Lucas é estudante de música desde os oito anos de idade, quando conheceu o Maestro Silvio Baccarelli. Hoje é piccolista da Orquestra Sinfônica Heliópolis (OSH) e tem aulas individuais de flauta e piccolo. “Para um menino da favela, participar de uma orquestra era totalmente inimaginável, foi então que o Instituto Baccarelli me acolheu e me fez mudar de vida, de pensamentos e de atitude”, relata o jovem.
Sua vida antes de ingressar no Instituto era comum, jogava bola, fazia cursos, entre outros. Mas, como entrou muito novo para a orquestra, adquiriu responsabilidade muito cedo, se tornando bastante hábil.
O que é música para você? – perguntei a Lucas – “Música é sentimento, emoção e conhecimento. É uma arte que consegue nos levar para outra dimensão na imaginação.”
Mas nem tudo são flores. Lucas sofre um bocado de preconceitos e críticas em Heliópolis, pelos amigos e familiares, que não entendem o seu amor pelo arranjo que sai de uma flauta, ou do som que flutua por uma voz. As pessoas pensam: “o que esse menino da favela quer fazer em uma Orquestra?” “Esse não é o seu lugar.” No entanto, o estudante persiste e insiste no seu sonho, dando uma aula de coragem àqueles que não foram privilegiados com ela.
Na área de relações institucionais do Instituto, está Daniela Lopes Cotrim, 28 anos, moradora da Vila Andrade. Daniela é responsável pela comunicação institucional, pelos materiais gráficos, mídias digitais e redes sociais e assessoria de imprensa interna.
A comunicadora sempre esteve envolvida com música, seja profissionalmente ou pessoalmente. Teve o primeiro contato com o Instituto Baccarelli em seu emprego anterior, onde grupos artísticos do Instituto se apresentavam com frequência. “Admiro o Instituto Baccarelli desde o momento que soube sobre o projeto”, diz.
Após começar e manter sua rotina no Instituto de Heliópolis passou a ter contato com a música de outra maneira, por meio de ferramenta de educação e de transformação social. “Utilizar a música ou a educação musical para atingir objetivos sociais é extremamente motivador e agregador. Aprendo muito, todos os dias, de diversas maneiras.”
Com toda a paixão que possui por música e pelo local que trabalha, acompanha de perto o trabalho com as crianças e jovens de Heliópolis, que é uma comunidade em situação de vulnerabilidade social e emocional. Daniela se considera privilegiada, por poder contribuir para o desenvolvimento individual dos moradores da comunidade e estimular valores positivos em suas vidas. Além de ser uma escola de música, o projeto trabalha diariamente para formar cidadãos melhores, mais conscientes, mais criativos, com mais auto-estima, respeito e disciplina.
Para Daniela, a música age na consciência e no inconsciente das pessoas, ou seja, abre horizontes e estimula pontos de vistas e viões de mundo. O contato com a música expande as barreiras que se cria ao longo da vida, e, portanto interfere diretamente na leitura que fazemos da sociedade. “Quando o som de uma música atinge nosso corpo, entra na corrente sanguínea, interfere na mente e nos sentidos físicos e emocionais. Assim, o som interage com as nossas emoções do momento, muitas vezes transformando o que estamos sentindo”, conta.
A música está inserida em qualquer contexto, seja ele social, racial ou cultural, possibilitando uma junção de todas as diversidades presentes nos seres humanos, em uma única. O som de um batuque, uma flauta, uma batida, uma guitarra, uma sanfona, faz com que seja possível a total entrega à melodia, de acordo com o gosto pessoal.
Na definição do que é musica para cada um dos envolvidos, se tem respostas fantásticas, como: “transformação, inundação e expressão de sentimentos e estilo de vida.” Nos corações e mentes dos alunos, funcionários e voluntários do Instituto Baccarelli, há a devoção pela música, os tornando cada vez mais competentes.