
Foto de Marcelo Rossi
As sombras do Itaim Paulista
Distrito do extremo leste apresenta outras perspectivas da cidade de São Paulo
Por Marcelo Laganaro Rossi e Thais Guarneri Ferreira Genovese
Quinta-feira, 22 de outubro. O Marcelo e a Thais combinaram de se encontrar na estação de metrô Paulista (Linha 4-Amarela). Na estação, o relógio marcava 7h23 da manhã. Era cedo. A cidade ainda acordava com o raiar do Sol. Nas ruas, era perceptível o pequeno movimento de pedestres que se encaminhavam ao trabalho. O trânsito fluía bem nas duas direções das pistas, onde carros e ônibus desfilavam a sua maquinaria, transportando pessoas todos os dias.
Quando chegaram ao Terminal Luz, os dois fizeram a baldeação do metrô para o trem da CPTM. Plataforma 04. Linha 11-Coral, que interliga o Brás a Guaianases. A viagem, dessa vez, foi curta. Uma estação. As duas personagens desembarcaram e seguiram em direção à Plataforma 07. Passado um tempo, avistaram a Linha 12-Safira. O destino era incerto. “Tem certeza de que é aqui?”, exclamou Thais, sem saber ao certo se aquele era o caminho. “Terminal Brás-Calmon Viana!”, respondeu, Marcelo, sem muita certeza, consultando as anotações que fizera do trajeto.
A espera pelo trem foi longa e cansativa. Ficaram quase... 15 minutos aguardando a chegada do transporte para seguirem viagem rumo às terras nunca antes navegadas pelos dois aspirantes a desbravadores. Marcelo e Thais partiram da estação do Brás às 8h15 da manhã. O trem estava vazio. O ambiente era agradável e a paisagem estava nitidamente nublada.
A região é bem arborizada e coberta por construções verticalizadas, prédios e mais prédios. Em primeiro plano, observam-se algumas construções locais mais humildes. O trânsito ficava mais congestionado. Ao fundo, avistam a antiga Feira da Madrugada, desativada pela Prefeitura há meses em virtude de ausência de alvará de autorização legal de funcionamento comercial. Nos trilhos ao lado, o trem passa apressadamente.
— A porta do trem fechou, e o perigo passou – esbraveja aliviado o vendedor ambulante, que realiza o comércio de mercadorias de forma ilegal dentro do vagão. Os dois personagens ficam impressionados com a variedade de produtos comercializados no trem. Desde salgados industrializados, como Ruffles e Doritos, passando por chocolates Twix, e chegando a chapinhas de cabelo da Taiff. Era um supermercado dentro do trem.
A próxima parada é a estação Tatuapé. A região é extremamente comercial. As pessoas caminham vagarosamente pelas avenidas e pelas ruas. Durante esse trajeto se vê muitos prédios de um lado; do outro lado, há casas simples e até um pouco de favela próximo do muro ao lado dos trilhos do trem. Os prédios, alguns são modernos e, outros, são mais antigos. O passeio de trem estava sendo agradável, com uma paisagem simples e com pouco verde até o momento. Há muitas favelas no caminho. Nesse momento, se vê um pouco mais de vegetação numa parte do percurso. Há um trecho que está em obras, e aí se avista mais o verde.
O trem segue o seu caminho. Passa pela estação Engenheiro Goulart, sem parada. Em seguida, interrompeu o seu percurso e o trem desembarcou no itinerário da estação USP Leste. Nela, duas amigas, que eram estudantes e estavam sentadas próximas ao Marcelo e a Thais, desembarcaram.
Pouco tempo depois, chegam à estação Comendador Ermelino. Após sair dela, encontram uma paisagem com muita vegetação. Há casas humildes, alguns comércios e mais adiante é possível ver uma comunidade. Seguindo adiante, passam pela estação de São Miguel Paulista. No local, encontram uma paisagem simples, onde se vê lugares antigos e pichados. A penúltima parada que fariam antes de desembarcarem no distrito planejado era na estação Jardim Helena – Vila Mara. Ao chegarem nela, avistam uma vista humilde, com favelas realmente próximas ao muro do trem.
Passada uma hora e quinze minutos de viagem, Marcelo e Thais desembarcaram na estação de trem do Itaim Paulista. Pontualmente, às 9h30 da manhã. Ao chegarem, resolvem fazer uma parada para registros escritos e pictóricos do local. As pessoas que transitavam na estação devem ter achado estranho o fato de eles tirarem variadas fotografias do mesmo local. Depois de passar pelas catracas da estação e antes de saírem dela, o Marcelo avistou uma estante lotada de preservativos. Claro, curioso como ele é, foi dar uma olhada. “Acho que eu vou levar uma camisinha para casa... Calma, espera aí, já que eu estou aqui, por que eu não levo logo 12 de uma vez?” – argumentou ele, sem graça com a situação.
Saindo da estação, as duas personagens atravessaram uma longa descida de rampa até a rua próxima à região. A estação de trem está limpa e bem cuidada. O céu está parcialmente nublado e fazia frio. É um distrito cheio de comércios e casas simples. Além da estação de trem, há ônibus também para as pessoas se locomoverem. O local é bem movimentado. O trânsito flui bem no Itaim Paulista. Próximos ao lugar, automóveis e ônibus perambulam pelo distrito.
Embaixo das escadarias da estação e ao lado de uma banca de jornal, um cachorro repousa a sua fadiga. A presença de vendedores ambulantes, carroceiros e mendigos é uma constante. As calçadas desse distrito são muito sujas e, devido a esse problema, a Thais chegou a dar de cara com uma barata no chão, passando próxima a ela.
Morador do Jardim dos Ipês, Rafael Lopes de Oliveira, de 16 anos, entregador de panfletos, diz que vem trabalhar no Itaim Paulista a pé por ser perto de onde mora. Relata que “o comércio da região é bem movimentado, as pessoas compram bastante aqui [no Itaim Paulista].”
Em seguida, fazem uma pausa para o lanche. Salgados e sucos substituem os tradicionais pães com manteiga na chapa e o leite e café. Enquanto conversam sobre a reportagem, começa a chover muito no distrito, e Marcelo e Thais têm de ir embora da região mais cedo, com receio de que a chuva aperte naquele momento.
Antes de embarcarem no sentido de volta, entram em contato com mais uma pessoa da região. Adriana, de 37 anos, professora, afirma que mora e também trabalha no Itaim Paulista. Conta a eles também que, na maioria das vezes, utiliza o transporte particular, o seu carro, para se locomover. Em suas palavras, o distrito “é uma região bem movimentada, principalmente nos horários de pico.” Encerrada a entrevista, os dois retornam aos seus caminhos, com uma bagagem cultural da região e uma riqueza de histórias recheadas de momentos agradáveis para contar.