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Foto de Marcela Sanches Borba

As formas de expressão e a cidade de São Paulo

 

Por Marcela Sanches Borba

Espaço geográfico, quando procurado no dicionário, possui apenas um significado: é qualquer região ou fração do planeta. São Paulo, portanto, é um espaço geográfico. Mas um espaço, o qual não se resume em apenas um significado, pois em São Paulo cabem todos os significados.

 

Diariamente são ônibus lotados, metrôs abarrotados e aviões decolando e pousando. São Paulo é terra de ninguém, mas também terra de todo mundo. O mundo encontra-se nessa cidade. Assim como Leandro, Babadabu e a pequena Alphadia, vindos da África para entrar na incessante loucura paulistana. Babadabu, trajado com uma bata típica do seu território natal, observa olhares que já captam a mensagem de que ele não é brasileiro. “As batas africanas aqui me diferenciam, mas na África elas não são roupas que distinguem as pessoas. Lá todos usam isto, é roupa normal”, explica.

Distinguir-se, será isso possível em meio a tanta gente? A solução que São Paulo encontrou para isso foi a formação de tribos. Tribo de índio, tribo de skate, tribo de direita, tribo de esquerda... São tantas existentes que só comprovam a necessidade do ser humano de aceitação e compactuação de pensamentos. Toda essa questão de “se mostrar” ser alguma coisa vira uma forma de questionamento, de julgamento, de interesse, de pura sedução.

 

Claudia, seduzida pelo feminismo, é uma paulistana nata que fora da sua tribo não é muito aceita por sua imagem. “As pessoas me olham como se eu fosse lésbica, mesmo eu não sendo, apenas por eu ter meu cabelo raspado. Mal sabem elas que raspo meu cabelo porque sou feminista e defendo uma causa”, desabafa.

 

Este é um exemplo de milhares de paulistanos que sofrem algum preconceito na cidade. Ou você é rico demais, ou pobre demais, ou não se comporta de maneira adequada, ou é só mais um. Não existe caminho para agradar desde a Zona Leste até a Zona Oeste.

 

A jovem, que defende o feminismo até por meio de sua aparência, diz que mesmo as pessoas julgando muito umas as outras e apenas observando o exterior, ela não trocaria São Paulo por nenhum outro lugar. “São Paulo é mais liberto. Outros lugares que já conheci são muito fechados e não procuram se expandir muito”, conta. Aqui, ela encontrou sua tribo e eles se expressam em um mundo particular, fazem contatos e levam suas ideias para frente.

 

Nesse lugar, ideias não faltam. É o padeiro que também é garçom, o cobrador que é cantor e até o advogado que é surfista. São tantas pessoas e tantas misturas que não causaria espanto se, um dia, São Paulo fosse considerado um país.

 

A nação paulista, assim como o Brasil, teria como raiz de sua cultura a miscigenação. Aqui, cabe arte clássica, arte contemporânea e arte de rua. “Tem muita gente de todos os lugares em um único lugar, então, naturalmente, não é todo mundo que tem o mesmo pensamento”, reflete Felipe, um homem de vinte e nove anos, tatuado e funcionário da Galeria do Rock. Ao ser questionado sobre como posicionar-se na cidade, revelou que, felizmente, São Paulo oferece um pequeno espaço aos grafites e skate, considerados por ele formas de expressão e protesto de um nicho não favorecido da população.

São Paulo permite manifestação, permite cultura, permite gritos e permite vidas. São Paulo sintetiza, São Paulo aceita e São Paulo perdoa. “Eu definiria São Paulo como o mundo inteiro! Onde se encontra de tudo, de todos, a qualquer hora, em qualquer esquina. O que importa é você saber quem realmente é a sua pessoa”, conta Rubens Alves, um hippie vendedor de artesanato do Centro da cidade, de cinquenta e cinco anos. Ele diz que se sente livre aqui, pois enxerga-se em um lugar onde as pessoas podem ser quem e o que elas quiserem.

 

Foram dessas diferenças de pensamentos, diferenças de vida e diferenças de mundo que resultaram a cidade de São Paulo. São Paulo é contraste! A cada dia, a cada pessoa que chega e fica ou que vai, São Paulo perde e ganha pedaços e recortes. Não há dicionário ou língua que possua um adjetivo correto para definir essa metrópole. Só vivendo e convivendo nesta inconstante nação para entender.

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